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14 de agosto de 2011

A TRADUÇÃO E A SUBJETIVIDADE PRESENTE NA PALAVRA

           
Esse ensaio tem o simples objetivo de tentar entender as implicações sobre a tradução e a subjetividade presente na palavra. Porém o olhar que se tem sobre a tradução e consequentemente de como ele deve ser realizado depende da visão que se tem sobre língua. A língua não serve a uma subjetividade individual, as palavras não são neutras, ao contrário está sempre concentrada de evocações de outro.
Toda palavra tem intenções, significados; para entender o discurso (o texto falado ou escrito), o contexto precisa ser entendido. A compreensão implica não só a identificação da linguagem formal e dos sinais normativos da língua, mas também os subtextos, as intenções que não se encontram explicitadas: “Não são palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou mentiras, coisas boas ou más, importantes ou triviais, agradáveis ou desagradáveis... A palavra está sempre carregada de um conteúdo e um sentido ideológico e vivencial” (Bakhtin, 1988, p.95)

Logo observando a fala de Kramer compreendemos a palavra como um componente constitutivo da linguagem, assim podemos notar que a linguagem é qualquer e todo sistema de signos que serve como um meio de comunicação de idéias ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos, gestuais etc. Podendo ser percebida pelos diversos órgãos dos sentidos, o que leva a distinguirem-se várias espécies de linguagem: visual, auditiva, tátil, etc., ou, ainda, outras mais complexas, constituídas, ao mesmo tempo, de elementos diversos. Como componentes constitutivos da linguagem podemos exemplificar gestos, sinais, sons, símbolos ou palavras, usados para representar conceitos de comunicação, ideias, significados e pensamentos.
            Abaurre e Pontara definem muito bem linguagem como:
 “Uma atividade humana que, nas representações de mundo que constrói, revela aspectos históricos, sociais e culturais. É por meio da linguagem que o ser humano organiza e dá forma às suas experiências”.
  Se compreendermos a dimensão dessa concepção, entenderemos que não podemos reduzir a linguagem a um simples meio de comunicação, como normalmente acontece, já que é a partir dela que construímos nossa memória e consequentemente nossa História. Sem linguagem não existiria a civilização como conhecemos. A palavra para Bakhtin é determinada, tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige pra alguém. Logo ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte.
Observemos nesse momento algumas compreensões sobre tradução sob a ótica de alguns estudiosos. O linguista russo Roman Jakobson (1952) afirma que as palavras por elas mesmas, não são capazes de transmitir significados que não tenham vínculos com uma experiência direta e subjetiva do objeto do discurso, e que qualquer palavra ou frase é sempre um fato semiótico. Ele divide a tradução em três tipos:
 A tradução intralingual consiste na interpretação de signos verbais mediante outros signos do mesmo idioma, exemplo: quando buscamos sinônimos no mesmo código linguístico.
A tradução interlingual baseia-se na interpretação de signos verbais mediante outro idioma, exemplo: tradução de títulos de filmes, ditos populares.
A tradução inter-semiótica caracteriza-se pela interpretação de signos verbais por meio de signos não verbais, exemplo: mímicas, interpretação através de imagens, relacionar figuras com textos.
 Na linguística, segundo Jakobson, a questão principal é a “equivalência na diferença” (p. 114), ou seja, a tradução envolve duas mensagens equivalentes em dois códigos diferentes.
Essa tipologia de tradução ajuda o professor de Língua Inglesa a ampliar sua visão de tradução no sentido de que em sua complexidade interliga os três momentos facilitando o trabalho com essa ferramenta deixando claro que ela não é simplesmente uma decodificação entre dois signos linguísticos distintos. Sob a mesma perspectiva o autor diz que:

“Nenhum espécime linguístico pode ser interpretado pela ciência da linguagem sem uma tradução dos seus signos em outros signos pertencentes ao mesmo ou a outro sistema. Em qualquer comparação de línguas, surge a questão da possibilidade de tradução de uma para outra e vice-versa; a prática generalizada da comunicação interlingual, em particular as atividades de tradução, devem ser objeto de atenção constante da ciência linguística. (JAKOBSON 1952, p.65)”
Campos (1986, p. 07), diz que a tradução, enquanto passagem de um texto de uma língua para outra, certas vezes está relacionada ao léxico, ás vezes a sintaxe, outras vezes, à morfologia da língua que se está traduzindo e da língua para a qual se está traduzindo.
Cabe ressaltar, ainda, que este autor defende que nenhuma tradução pode ter a pretensão de substituir o texto original, pois é apenas uma tentativa de recriação dele. E sempre poderão ser feitas outras tentativas.
 Não se traduz afinal de uma língua para outra, e sim de uma cultura para outra; a tradução requer assim, do tradutor qualificado, um repositório de conhecimentos gerais, de cultura geral, que cada profissional irá aos poucos ampliando e aperfeiçoando de acordo com os interesses do setor a que se destine o seu trabalho. (CAMPOS, 1986, p.27,28).
 A tradução se orienta através de dois fatores que são chamados de equivalência textual e correspondência formal. Isto quer dizer que “uma boa tradução deve atender tanto ao conteúdo quanto à forma do original, pois a equivalência textual é uma questão de conteúdo, e a correspondência formal, como o nome está dizendo, é uma questão de forma” (p.49).
 Widdowson (1997) considera que a tradução naturalmente nos leva a associar a língua a ser aprendida com a que já conhecemos e usá-la para explorar e aumentar o conhecimento. Ela proporciona a apresentação da língua estrangeira como uma atividade relevante e significativa comparada à língua materna do aprendiz. Permite, também, a invenção de exercícios que envolvem a resolução de problemas de comunicação que exigem conhecimento além do simplesmente lingüístico.
Este princípio naturalmente nos leva a associar a língua a ser aprendida ao que ele já sabe e a usar a língua para a exploração e extensão do seu conhecimento. Para usar a língua, em resumo, da forma que ela é, normalmente usada. (...) Ela propicia a apresentação da língua estrangeira como uma atividade comunicativa relevante e significativa comparada a apropria língua do aprendiz. Ela permite a invenção de exercícios que envolvem a solução de problemas comunicativos, problemas que exigem referência além da simplesmente lingüística, que demanda habilidades lingüísticas somente a tal ponto que eles sejam uma característica de habilidades comunicativas. (Widdowson, 1997, p.158,159)
Portanto, conclui-se que a tradução, apesar de ser vista de maneira diferenciada pela maior parte dos estudiosos, ocorre até mesmo quando não imaginamos que a estamos usando. Dessa forma, ela é considerada por alguns autores como uma estratégia que facilita a aprendizagem da língua, enquanto outros acreditam que ela  em nada contribui para a sua aquisição. Alguns autores destacam que, até mesmo o fato de a criança pedir uma explicação sobre um determinado termo, significa que está fazendo uso da tradução e que a mesma ocorre na maioria das vezes, involuntariamente, porque não se decide naquele exato momento que se vai traduzir determinado termo ou expressão, mas ela ocorre sem que percebamos, mesmo que mentalmente, o que não deixa de ser uma forma de tradução.
Então, é de suma importância que novos estudos continuem sendo feitos com relação ao que vem a ser o uso da tradução nas aulas de língua estrangeira realmente, e o que pode ser definido como tradução para que ensino/aprendizagem de línguas seja melhorado.

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