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24 de julho de 2011

Conto

DIA DOS PAIS
Ano retrasado não veio, ano passado demorou pouco, este ano só Deus sabe se vem ou não. Se pensa que espero está enganado. Espero como espera aquela cadeira, como espera aquela cama ali. Pra mim não faz diferença se vir ou não vir, com os bobos conselhos de sempre as mesmas falsas inquietações.
Ano passado trouxe a filha, e a filha trouxe o namorado. Dois jovens tolos, que olhava para as paredes mal pintadas com curiosidade mórbida, me olhando com desprezo e repulsa, ofereci suco, água, refrigerante e não aceitaram, provavelmente com nojo do copo por acharem sujo. Meu filho ainda tomou um pouco da cerveja que mais gosta que estava na geladeira a dois dias. A esposa não veio, nunca vem, nenhuma falta faz. Assim fico dispensado dos rapapés (Cortesia, mesura ou cumprimento em que há exagero, afetação; rapapé), de simular naturalidade, falando do tempo ou de doenças. Fez um péssimo casamento, tão bem criado, tão mal casado. A última vez que veio aqui tinha vindo do salão de beleza e durante o pouco tempo que durou a visita de médico permaneceu com as mãos esticadas pra não borrar as unhas. Ele foi ao seu quarto e mostrou onde dormia quando era solteiro. Ela sorriu cínica e sonsamente com um leve ar de deboche. "Certamente se perguntou como alguém poderia dormir ali". Não é como o quarto da filha cheio dessas bugigangas que nem usa na maioria das vezes.
O ruído do portão anuncia alguém, só pode ser ele. Lá vem cheio de presentes ordinários blusas de lã e meias finas, será que vai trazer aquele vinho adocicado e enjoativo que já não tomava antes mesmo de ter diabetes. Vai sentar na poltrona tirada do quarto desde cedo e que só é usada quando ele vem, pois machuca minha coluna, certeza não demorar, pois deve ter outros compromissos mais importantes com a filha e a mulher, pouco me importa se venha ou não venha se fique ou não fique.  Não era ele no portão, apenas o carteiro, pela hora, duvido que venha, porém é melhor levar a poltrona de volta para o quarto e cobrir pra não pegar poeira, ano que vem pode precisar.

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