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3 de outubro de 2011

A LINGUAGEM E SUAS DISTINÇÕES

Para entendermos a linguagem peculiar utilizada pelos sistemas na internet é preciso compreender a questão do gênero do discurso em Bakhtin. Existem inumeráveis formas de gênero de discurso, já que este está relacionado a cada segmento da atividade humana na sua relação de aplicabilidade e apropriação por parte do indivíduo.
“A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana. O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais -, mas também, sobretudo, por sua construção composicional. Estes três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominados gêneros de discurso” (Bakhtin, 1992:279).

            Para Bakhtin, os gêneros possuem características próprias que delimitam o enunciado. Sabe-se quem fala e/ou para quem fala, a partir do gênero discursivo que ele emprega. “Para falar utilizamo-nos sempre dos gêneros do discurso, em outras palavras, todos os nossos enunciados dispõem de uma forma padrão e relativamente estável de estruturação de um todo. Possuímos um rico repertório dos gêneros do discurso orais (e escritos)” (Bakhtin, 1992:301). Nesse sentido, o enunciado estabelece uma relação complexa entre o campo formal e não formal entre a experiência e a consciência, como também entre os distintos gêneros do discurso.
            A forma do gênero é instável, oposta a forma da língua, mas não sobrevive sem esta, sua peculiaridade aplica-se sempre a algum tipo de atividade humana e se faz útil no que concerne à comunicação e organização não linear de significados a uma dada cultura.
            Neste trabalho o gênero do discurso se faz importante ao pensarmos que a internet adquiriu em especial no que diz respeito aos sistemas de bate-papo, uma linguagem própria adaptada às necessidades e características deste tipo de comunicação e que a experiência centralizadora da educação formal em sua pretensa supremacia hierárquica sobre a língua, apresenta-se como opositora.
            A linguagem é o principal meio simbólico responsável pelos atos de comunicação e pode ser compreendida como um sistema que difere o homem dos outros animais, por ele ser o único capaz de criar e decodificar sinais de comunicação e através deles poder expressar e/ou transmitir seus pensamentos e idéias. Saussure apud Bakhtin (1990) caracteriza a linguagem como multiforme e pertencente aos domínios individuais e sociais. Tais domínios são responsáveis pelas principais teorias que norteiam o sistema lingüístico.
Sobre esses domínios, Bakhtin (1999) cita duas orientações do pensamento filosófico, classificadas como: “subjetivismo idealista” e o “objetivismo abstrato”. O primeiro interessa-se pelas questões da fala e a apresenta como fundamento principal de formação da linguagem porque vem primeiro, é individual e ainda por ser responsável pela significação e materialização da língua.
O segundo apresenta a língua como um sistema estruturado com identidade normativa, determinada por um grupo social que estabelece critérios para a utilização da fala. Em cada domínio, língua e fala apresentam características dicotômicas. Isto se confirma no dizer de Bakhtin (1990, p.79)

Se a língua, como conjunto de formas, é independente de todo impulso criador e toda ação individual, segue-se ser ela o produto de uma criação coletiva, um fenômeno social e, portanto, como toda instituição social, normativa para cada indivíduo.

Com efeito, havemos de considerar dois domínios da língua, a saber: no primeiro domínio, a língua é apresentada como uma atividade criativa de construção da linguagem, que se concretiza sob a forma de atos individuais de fala. Percebemos que nele, a fala é apresentada num panorama privilegiado, pois ela é responsável pela evolução da língua; Neste aspecto, a essência da língua está precisamente na sua história. No segundo, a língua é apresentada como um sistema estável de formas lingüísticas distantes das influências da fala e, portanto submetidas a uma norma.
            Bakhtin (1990) lança uma crítica a esses domínios principalmente no que desrespeito a língua e propõe que, ao lançarmos um olhar verdadeiramente objetivo sobre a ela, não encontraremos nenhum indício de um sistema de normas imutáveis. Pelo contrário, depararemos-nos com a evolução ininterrupta das normas lingüísticas.
Entretanto, apesar das idéias dicotômicas, é notória a interdependência entre língua e fala, pois uma não existe sem a outra. Através da língua, temos acesso a outras culturas, pois a mesma já trás consigo as evoluções históricas por serem constituídas de convenções adotadas por membros de uma mesma comunidade. Neste sentido, ela é considerada exterior ao indivíduo e por essa razão, como afirma Carvalho (2001, p.51),
Nenhum indivíduo tem a faculdade de criar a língua nem modificá-la conscientemente (...) como em qualquer outra instituição social, a língua se impõe ao indivíduo coercitivamente. Por isso, ela constitui um elemento de coesão e organização social.
           
A fala, por sua vez, é a primeira realidade da língua, tanto na história da humanidade como na nossa história pessoal; no entanto, a língua é necessária para que a fala seja inteligível e, ao mesmo tempo, para que a língua se estabeleça é indispensável os atos individuais, pois apresentam a linguagem de forma concreta, como afirma Carvalho (2001, p.51), a fala é a própria língua em ação.
As relações entre língua e fala estão envoltas em influências diversas, que interferem na formação e uso da linguagem, por essa razão ela não pode ser considerada uniforme, mas como um sistema evolutivo cercado de variações cujas mesmas são mais notórias no universo da fala, por não ser regida de regras e ser um ato puramente individual está mais propensa a mudanças.

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